terça-feira, 16 de julho de 2013

O capital social na era das redes sociais online


Este trabalho é um dos pilares da minha dissertação da mestrado. Pretendendo analisar as transformações do valor económico e social da informação no quadro da sociedade em rede, aproveitei a cadeira de Redes Sociais Online (ministrada pelo regente do mestrado, Gustavo Cardoso) para fazer uma primeira abordagem ao tema. Basicamente, tinha como intenção tentar perceber o que é que leva as pessoas a interagir (e por vezes expor a sua intimidade ou expor-se a um óbvio aproveitamento comercial) nas redes sociais online. O que esperam retirar disso como beneficio pessoal ou social. Que gratificação imediata é que isso lhes dá. Obviamente não me interessava entrar pela psicologia social (embora isso também fosse interessante). O que me interessava era perceber que benefícios sociais resultam da interacção nessas redes e em que medida é que esses benefícios são diferentes face às redes sociais não mediadas. Obviamente, o conceito de capital social é central nesta análise.
Confesso que não conhecia em profundidade o conceito de capital social, o que obviamente era uma lacuna importante  uma vez que se trata de um conceito central em sociologia. Conhecia o seu sentido superficialmente, mas agora fiquei a conhecer muito melhor todas as suas vertentes (e até as suas várias acepções). E, como é óbvio, há mudanças importantes no tipo de relacionamento social que se estabelece entre os indivíduos que têm impacto sobre a formação de capital social. Impactos qualitativos e quantitativos.
Este é um tema difícil e a impressão que me ficou foi que ainda há muito por estudar. Mas há duas ideias que gostaria de destacar. Primeiro, a participação nas redes sociais online está longe, muito longe de ser uma futilidade. Obviamente, estas são redes diferentes das redes tradicionais. Mas não são menos importantes ou - aquilo que realmente me interessa neste estudo - menos valiosas para os indivíduos. Isso torna-se evidente quando as analisamos usando um prisma diferente daquele a que recorremos para analisar as redes tradicionais. Um "amigo" do Facebook é diferente de um primo ou um irmão. Mas não é necessariamente menos importante do ponto de vista social. E pode ser tão ou mais valioso do ponto de vista social. Uma das razões é porque há aqui dois elementos das redes sociais online que são determinantes em introduzir a diferença: a quantidade incomparavelmente mais abundante de ligações mediadas e o facto de poderem transpor as contingência de espaço e tempo. Portanto, desse ponto de vista, a investigação feita para este trabalho foi frutuosa e serviu os objectivos que tinha inicialmente para ele (em termos de análise do valor social da informação)
Mas há outra ideia que eu também queria destacar e que neste trabalho acabei por apenas aflorar superficialmente: a multiplicação de relações sociais e a transversalidade espacio-temporal das mesmas coloca os indivíduos perante novos tipos de filiações sociais que transcendem as limitações geográficas, nacionais, etárias, familares ou outras. Ou seja, toda aquela sorte de critérios que costumavam sedimentar (e ainda sedimentam) as relações sociais não mediadas. E o que parece - sinceramente - é que é isso mesmo que explica as convulsões sociais que temos vindo a presenciar um pouco por toda a parte (e para as quais se procuram futilmente "razões próximas"). Parece haver aqui um desconforto, um desajustamento, entre a realidade "real" dos indivíduos e a realidade "virtual" das suas relações sociais online. Eu lembro-me de ter achado - com Baudrillard, por exemplo - que havia um desfasamento traumático de base entre aquilo que a sociedade de consumo nos impunha como aspiração social e aquilo que a realidade económica nos permitia. Sempre achei que esse trauma seria o "combustível" de alguma coisa. Pois bem, hoje em dia, o desfasamento traumático entre as limitações da nossa realidade "real" e as potencialidade da nossa realidade "virtual" é ainda maior. Está por provar que seja isso - ou algo parecido com isso - que está na base das convulsões sociais em que vivemos. Mas essa hipótese deve ser estudada (o que, por si só, repare-se, "obriga" a pôr de lado, desde logo, todas as referidas "razões próximas").
No fundo, o que isto significa é que há aqui movimentos tectónicos profundos das formas de sociabilidade dos indivíduos e do tipo de relações sociais que se estabelecem entre eles. Essas mutações profundas têm provavelmente múltiplos efeitos, sendo que um deles pode bem ser a construção de sociedades (ou sociedade) mais justas, mais fraternas e mais solidárias. Isto, obviamente, está para lá do âmbito restrito do trabalho que pretendo fazer neste mestrado, mas, bem vistas as coisas, pode também ser um elemento a ter em conta numa análise do valor social da informação. Não para os indivíduos, mas para a sociedade como um todo. Ou seja, o conceito de capital social é instrumental, mas podemos igualmente analisar as potencialidades comunicativas da sociedade em rede como um elemento de crescimento e amadurecimento das sociedades humanas. O que nos leva em direcção a teorizações como a da "civilização empática" de Rifkin ou a ficções como o "Admirável Mundo Novo" de Huxley.

O trabalho apresentado à cadeira de Redes Sociais Online - que não contém estas reflexões mas suscitou-as - pode ser lido ou descarregado na minha área do academia.edu ou aqui:

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